Os diversos Fóruns Mundiais da Água se detiveram e se dedicaram aos estudos sobre o tema “Água” e o cerne dos debates foi a valorização da água e a elaboração de políticas de privatizações e criações de sistemas de tarifas de água, tendo em vista o direito de cada indivíduo ao seu acesso e usufruto. A privatização da água está inserida nas estratégias de expansão do capital natural para assimilar e se apropriar de bens e serviços ambientais, bens naturais e metaindividuais.
Os princípios da economia global revestidos do poder de mercado se apropriam dos ecossistemas, não apenas para se alimentarem deles, mas, para governá-los. Não estamos falando apenas de privatização de abastecimento de água domiciliar, água para a agricultura e indústria e sim de uma “Gestão Global da Água”. A água concebida como “ouro azul” – um excepcional capital natural dentro de uma suposta economia sustentável, na verdade, inserida plenamente nos domínios das apropriações das condições ecológicas de produção, dentro de um propósito de “Gestão Integral da Natureza”.
O planeta Terra amordaçado pelas correntes da economia e do mercado global encontra-se cada vez mais desfocado da regência das leis da natureza. Desnaturaliza-se a incomensurável beleza da Terra redimensionando-a como uma natureza “ecologizada” em preços de mercado. Nesse paradigma, as complexas e sutis interações da teia da vida, única realmente capaz de garantir a sustentabilidade planetária, não constituem um saber objetivo na seara mercadológica da natureza. A regência que transcende o entendimento da racionalidade positivista é forçosamente cedida para a ciência e tecnologia direcionadas por essa racionalidade.É possível uma regência que assegure a sustentabilidade planetária quanto ao direito humano à água dentro de uma concepção mercantilista da natureza?A água é governável?
Nos últimos sessenta anos a população mundial triplicou-se, enquanto a demanda de água aumentou seis vezes. A industrialização induziu um enorme consumo de água. A entropia decorrente dos processos de industrialização supera os “mecanismos operacionais” de regeneração por parte dos ecossistemas. Há um gritante descompasso entre a dinâmica volumétrica da biosfera e a ressonância destrutiva decorrente das ações antrópicas e lineares da tecnologia e da chamada lógica de mercado.
De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), existem na Terra 1,3 bilhões de pessoas sem acesso a água potável ;2,5 bilhões não desfrutam de saneamento básico e 31 países se apresentam com grave escassez de água. Nos próximos vinte anos, dois terços da população mundial não terão acesso adequado ao abastecimento de água doce. Os objetivos de desenvolvimento do milênio propõem reduzir pela metade o número de pessoas que habitam o mundo sem água potável e de qualidade, até 2015.
Anualmente, o metabolismo da água não é apenas modificado pelo aumento da população humana e suas demandas envolvendo água, mas em decorrência da intervenção da economia sobre a natureza, pois, um grande fluxo de água é direcionado para processos industriais e comerciais.O grande desafio mundial em relação à água, bem metaindividual, é a criação de uma “Gestão Democrática da Água”, o que implica reconstruir práticas sociais, relacionadas com os modos de produção e consumo e com obras de abastecimento, drenagem e reciclagem.
As águas da Terra já não correm livres levando vida aos ecossistemas e aos povos que se estabelecem nas proximidades de seus circuitos A desnaturalização da natureza afeta todo o circuito das águas do planeta e modifica seu ciclo natural imobilizando e travando o seu trânsito entre a hidrosfera, litosfera e biosfera. Muitas vezes, sob o discurso da sustentabilidade se oculta aos olhos desatentos a mesma racionalidade econômica tradicional, usando agora novas roupagens que ressoam a impressão de uma ideologia calcada numa “Racionalidade Ambiental.” A face indomável da Natureza não quer rédeas sobre Ela.
MAURÍCIO TOVAR
MATÉRIA DO JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ
COLUNA TERRA SUSTENTÁVEL
http://www.dmdigital.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário