Floresta Amazônica e Cerrado -Um direito para as gerações futuras.

   É uma paradoxo,quase uma inversão de valores,a aprovação do novo Código florestal brasileiro no momento em que o zietgeist(espírito de uma época) está centrado na construção de uma consciência Ecológica planetária , na preservação de biomas  ecossistemas e na recuperação de áreas florestais, que no passado foram levianamente devastadas.
    Até o final da década de 70,apenas 4% da Floresta Amazônica havia sido destruída.Atualmnte, a área desmatada já é maior do que o equivalente ao território da França.E no ritmo da destruição atual - 15 mil quilometros quadrados por ano- daqui a 20 anos deverá haver apenas 30% da mata virgem da floresta.
    O argumento de que é necessário establecer uma sucessão ecológica direccionada para a monocultura, em parte das atuais áreas de reserva legal e visando o aumento de produção de grãos para atender a demanda do ,mercado consumidor, é cômodo e inconsciente.Avanços tecnológicos oriundos de investimentos no setor agrícola, se adequadamente aplicados podem garantir uma alta produtividade dentro dos limites territoriais previstos pelo código Florestal atual - que continua em vigor até que o novo código seja votado pelo senado e chegue as mãos da presidenta Dilma Rousseff.
    Biomas como a Floresta Amazônica e o Cerrado possuem um delicado equilíbrio entre fatores bióticos e abióticos. Suas faunas e floras necessitam de "habitat" e de "nicho ecológicos" para sobreviverem.
O habitat pode ser comparado ao endereço da especie  o nicho ecológico à sua profissão, ou seja, ao papel desempenhado pela espécie dentro do ecossistema.No conjunto todas as espécies estão integradas dentro de uma  grande Teia da Vida.Nela há permanentes ciclos de matérias, isto é  os elementos químicos, de modo análogo a um circuito elétrico fechado, transitam do ambiente(água , solo, atmosfera) para dentro dos seres vivos,  desses novamente para o meio ambiente repetindo continuamente o processo. Interferências excessivamentes destrutivas nesses ecossistemas podem acarretar desequilíbrios irreverssíveis,com consequências desastrosas no ciclo hidrológico, no clima continental, na qualidade do solo, na dinâmica dos ventos, no processo de polinização natural, na variedade e proliferação de pragas e nos mecanismos que garantem a sobrevivência de várias espécies da biodiversidade.
   Além da ciclagem de elementos químicos que está ocorrendo em toda a biosfera planetária, biomas como a Floresta Amazônica e Cerrado estão produzindo uma fantástica quantidade de biomassa orgânica a partir de suas plantas que captam energia do sol, água do solo e gás carbônico da atmosfera.
   Estudos realizados no início do século XXI mostraram que o desmatamento e as queimadas localizadas principalmente no chamado arco do do desflorestamento,região que se estende do sul do Pará em direção da Amazônia ocidental, no estado do Mato Grosso do Sul,são responsáveis por mais de 70% das emissões de CO2 no Brasil.Essa quantidade representa mais de duas vezes o montante de CO2 liberado para a atmosfera em decorrência da queima de combustíveis fósseis.
   Dados levantados por pesquisadores da universidade de São Paulo e do instituto Max Planck, na Alemanha demonstram que a poluição diminui a quantidade de chuvas e eleva o calor em cidades como Manaus, cujo o índice de partículas em suspensão no ar, incrivelmente, supera os índices da cidade de São Paulo. Coletas realizadas por aviões evidenciaram que a poluição de Manaus atinge a reserva ecológica fluvial de Anavilhanas,a setenta quilômetros da capital.
   Mudanças no ciclo hidrológico decorrente de desatamentos e das queimadas afetam o regime de chuvas. As iterações entre a floresta e a atmosfera são bastante complexas, entretanto, sabe-se que a diminuição das chuvas na floresta interferem nos estômatos , estruturas presentes nas folhas das plantas. A maior disponibilidade de água faz com que as plantas mantenham os seus estômatos mais abertos, alterando a relação com a atmosfera, portanto a drástica diminuição das plantas implica em redução de sequestro de CO2,ampliando ainda mais o efeito estufa já decorrente da liberação de gases formados a partir da combustão da biomassa.
   Ecólogos compreendem que as formações de biomas com comunidades"clímax", ou seja no mais elevado estágio de equilíbrio dinâmico como as que estão presentes na floresta Amazônica e no Cerrado,resultam de um longo trabalho de sucessão ecológica natural ao longo do tempo geológico. Infelizmente a compreensão sistêmica da dinâmica planetária ainda não se faz presente, em sua inteireza, na mente de todos os representantes que decidem os destinos do País.As implicações decorrentes das decisões baseadas em percepções fragmentadas podem ser desastrosas e comprometedoras para as gerações futuras.A floresta em Pé e o Cerrado preservado,se devidamente manejados,podem gerar por mais tempo, mais riquezas para os brasileiros.
   Vista como um todo, A Floresta Amazônica integra todas as suas partes, tal qual um organismo humano, que integra suas células, tecidos,órgãos e sistemas. Se uma das partes é lesada há prejuízo para o todo.Um mecanismo de reconstituição se encarrega de promover a regeneração da parte lesada em demanda da harmonia desse todo. Se,  no entanto as lesões se tornarem mais acentuadas e de maior intensidade o equilíbrio perdido pode não ser mais recuperado acarretando a falência total do organismo. Pela sua  complexa constituição, sua dinâmica iterativa e altíssima estabilidade, a Floresta Amazônica possui um,a grande capacidade de se reabilitar.Entretanto, se a velocidade de destruição dela superar sua capacidade regeneradora interrompendo as conexões elétroquímicas que trabalham em favor de sua integridade, o equilíbrio será definitivamente perdido. Na verdade, o que esperamos daqueles que tratam de temas ecológicos nas esferas governamentais é que abandonem o velho paradigma, um novo conceito de progresso, uma nova maneira de pensar e agir.

MAURÍCIO TOVAR
MATÉRIA DO JORNAL DIÁRIO DA MANHà
COLUNA MISTÉRIOS DA NATUREZA.
http://www.dmdigital.com.br/

 

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