OCORRE HIDROPIRATARIA E BIOPIRATARIA NO RIO AMAZONAS?


     A  Bacia Hidrográfica Amazônica com seu gigantesco manancial de água subterrânea armazenada no maior aquífero do mundo – o “Alter do Chão” – e nas águas de superfície presentes no Rio Amazonas, seus afluentes e igarapés, sem dúvida, possui a maior quantidade de água doce líquida e não poluída do planeta, todavia, é justamente nessa região do país que se encontra o menor índice de água tratada no Brasil.

         Como se não bastassem os muitos casos de denúncias de contrabandos de animais silvestres, de minérios e de plantas portadoras de drogas utilizáveis na produção de fármacos, pesquisadores e ambientalistas comentam sobre a ocorrência de hidropirataria feita por navios petroleiros na foz do rioAmazonas.Os naviosentram  na abertura de 350 km com média de 50m de  profundide e reabastecem seus reservatórios com capacidade média de 250 milhões de litros de água, quantidade suficente para o consumo de toda a população de Manaus durante 12 horas.Alguns estudiosos dizem que o custo  do litro de água, incluindo transporte e posterior osmose invertida para retirada de sedimentos misturados ultrapasse 3 dólares por litro,  o que seria superior ao custo da dessalinização do litro retirado da água do mar. Pode ser.Entretanto, devemos  considerar que nessa água,certamente deve existir uma diversidade de peixes e de outras espécies aquáticas macroscópias,juntamente com uma grande quantidade de microorganismos, portanto ,não se descarta a possibilidade de que a hidropirataria, aparentemente menos ofensiva, na verdade, esteja ocultando uma biopirataria.

MAURÍCIO TOVAR
MATÉRIA DO JORNAL DIÁRIO DA MANHà
COLUNA  TERRA SUSTENTÁVEL 
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A CIÊNCIA DESBANCA O RACISMO

      
Genoma

            Se tomarmos duas pessoas, ao acaso, a diferença do conjunto gênico de uma em relação ao conjunto gênico da outra não ultrapassará 0,1%, independentemente de qual seja a etnia de cada uma delas, portanto, no mínimo 99,9% dos genes existentes em todos os seres humanos são idênticos. Além disso, a pesquisa da genômica humana revelou que dentro daquela diferença de 0,1%, a maior parte – cerca de 90% - ocorre curiosamente entre os indivíduos que estão na mesma população, restando 5% para variações entre indivíduos de grupos populacionais distintos. Para se ter uma ideia do que isso significa, pode haver, por exemplo, mais diferenças genéticas entre dois indivíduos europeus de uma mesma população do que entre um indivíduo europeu e um africano. Não é possível dividir a espécie humana em raças porque a variabilidade genética em um mesmo grupo populacional é maior do que a existente entre indivíduos pertencentes a grupos populacionais diferentes.
            Estudos sobre a origem  do povo brasileiro,  realizados pelo geneticista brasileiro Sérgio Danilo Pena, professor titular do Departamento de Bioquímica e professor da Pós Graduação em Biologia Molecular da Universidade Federal de Minas Gerais, deixam claro que é  impossível traçar algum perfil genético de raças dentro da população brasileira. A grande maioria das pessoas possui genes que foram herdados de ancestrais índios, negros e brancos, independentemente da cor da pele. Na prática, isso significa que uma pessoa pode ter a pele clara, mas a maior parte dos seus genes herdados serem de origem africana.
            A variedade genética existente em uma espécie é extremamente importante para a sobrevivência dela, o que significa que a concepção de “raça pura” não é apenas absurda, é uma concepção indesejável e calcada na ignorância. Qualquer concepção focada na ideia de “purificação da raça” com o propósito de fazer com que os indivíduos humanos fiquem geneticamente muitíssimo semelhantes é absurda e representaria uma grave ameaça à sobrevivência da espécie.
                        A verdade é que a criação do conceito de raça serviu de pretexto para a justificação do preconceito e do racismo, da dominação e da exploração. Tal conceito, sem dúvida, é uma construção social desprovida de qualquer vestígio de validade científica. Portanto, qualquer atividade discriminatória nesse sentido, por ser injusta e geradora de violência e intolerância, deve ser veementemente repudiada e combatida através da aplicação da lei.

            Conscientes de que somos todos de uma mesma espécie, podemos facilmente compreender que, independentemente da cor da pele, do sexo, da identidade religiosa ou da classe social, devemos, sem prevaricar, cooperar uns com os outros. A vacina contra o racismo é feita a partir da educação que valoriza a diversidade e aproxima as pessoas, na medida em que alicerça valores humanistas.

MAURÍCIO TOVAR
MATÉRIA DO JORNAL DIÁRIO DA MANHà
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TERRA – UM PLANETA QUE SE AUTO–REGULA.

       


            Na década de 60, a NASA convidou o cientista, especializado em química da atmosfera, James Lovelock, para o Jet Propulsion Laboratories em Pasadena, na Califórnia, para ajudá-la a projetar instrumentos de detecção de vida em Marte. Na ocasião, a NASA havia planejado enviar uma nave espacial à Marte com o intuito de procurar vida, executando vários experimentos com o solo marciano. No trabalho técnico de elaboração dos instrumentos, Lovelock se perguntava: “Como podemos estar certos de que o modo de vida marciano, qualquer que seja ele, se revelará a testes baseados no estilo de vida da Terra?”
            Pensando sobre a natureza da vida no nosso planeta e como ela poderia ser reconhecida, Lovelock descobriu que o fato de todos os seres vivos retirarem energia e matéria e descartarem substâncias residuais no meio ambiente era a mais geral das características da vida e supôs que a vida em qualquer planeta utilizaria a atmosfera e os oceanos como meios fluídicos para as matérias primas e recepção dos produtos residuais. Se houvesse vida em Marte – pensou ele – a atmosfera marciana expressaria certas combinações de gases que se revelariam como “assinaturas” singulares, possíveis de serem detectadas por poderosos telescópios, a partir da Terra.
            De fato, posteriormente Lovelock conseguiria obter dados preciosos sobre a atmosfera de Marte e concluiria que ela possui um total equilíbrio químico, situação oposta a da atmosfera terrestre, que contém gases que reagem constantemente uns com os outros, resultando numa mistura de gases afastados do equilíbrio químico.
            As seguintes palavras expressam sua convicção de que a Terra é um organismo vivo – base da Teoria de Gaia: “Para mim, a revelação pessoal de Gaia veio subitamente – como um flash de iluminação. Eu estava numa pequena sala do pavimento superior do edifício do Jet Propulsion Laboratory, em Pasadena, na California, conversando com uma colega, Dian Hitchcock sobre um artigo que estávamos preparando... foi nesse momento, que num lampejo, vislumbrei Gaia. Um pensamento assustador veio a mim, a atmosfera da Terra era uma mistura extraordinária e instável de gases, e, não obstante eu sabia que sua composição se mantinha constante ao longo de períodos de tempo muito longos. Será que a vida na Terra não somente criou a atmosfera, mas também a regula – mantendo-a com uma composição química constante, e num nível favorável aos organismos?”
            Lovelock sabia, através da astrofísica, que o calor do sol aumentou 25% desde que a vida começou na Terra, entretanto, apesar desse aumento, a temperatura média na superfície do Planeta praticamente se manteve constante, em nível ajustável para os seres vivos, durante os 3,5 bilhões de anos de biosfera terrestre. E se a Terra fosse capaz de regular sua temperatura, indagou ele, e também outras condições, como salinidade dos oceanos, composição da atmosfera etc... – de forma análoga aos seres vivos que são capazes de se auto-regular e de manter constante a temperatura corporal?
            Lovelock percebeu que essa hipótese significava uma radical ruptura com a visão convencional da ciência. “Considere a Teoria de Gaia uma alternativa à sabedoria convencional que vê a Terra como um planeta morto, feito de rochas, oceanos, de atmosfera inanimada e meramente, habitada pela vida. Considera-a como um verdadeiro sistema, abrangendo toda a vida e todo o seu meio ambiente, estritamente acoplados de modo a formar uma entidade auto-reguladora”.
            Em 1969, Lovelock apresentou em Princeton, pela primeira vez, sua hipótese da Terra como um sistema capaz de se auto-regular. Ele ainda não tinha uma ideia elaborada de como a Terra poderia regular sua temperatura e composição da atmosfera, mas sabia que esses processos certamente tinham de envolver organismos existentes na biosfera. Coincidentemente, uma bióloga norte-americana brilhante, a microbiologista Lynn Margulis, estava estudando os mesmos processos que Lovelock ansiava por entender – a produção e o sequestro de gases por vários organismos, incluindo os seres que constituem o microbiota planetário, com milhares, talvez milhões de espécies de bactérias e outros seres microscópicos. Uma importante indagação de Margulis foi: Por que todos concordam com o fato de que o oxigênio atmosférico provém da vida, mas ninguém fala sobre os outros gases atmosféricos que provém da vida?
            O encontro entre Margulis e Lovelock resultou na elaboração plenamente científica da hipótese de Gaia. Margulis respondeu às indagações de Lovelock a respeito das origens biológicas dos gases atmosféricos e em contrapartida Lovelock contribuiu com concepções da química, da termodinâmica e da cibernética para a emergente Teoria de Gaia. Esse casamento perfeito permitiu colocar em ênfase que o aspecto de destaque nos laços de realimentação está no fato de que ligam sistemas vivos e não vivos.
            A Teoria de Gaia mostra a existência de um sincronismo dos fatores bióticos do planeta – microorganismos, plantas, animais – e suas partes não vivas – minerais, rochas, oceanos e atmosfera.
            Vulcões têm lançado grandes quantidades de gás carbônico (CO2) durante milhões de anos. A Terra precisa retirar o excesso de CO2 da atmosfera, pois, ele e um gás de efeito estufa. A chave para a remoção do excesso de CO2 na atmosfera está na reciclagem que envolve a erosão das rochas. .Os componentes do material erodido combinam-se com a água da chuva e com o CO2 formando substâncias químicas denominadas carbonatos, sendo assim o “CO2” que estava em excesso na atmosfera passa para os carbonatos. Lovelock descobriu que certas bactérias do solo aumentam enormemente a taxa de erosão, portanto, atuam como catalisadores desse processo. Os carbonatos são levados para os oceanos, onde algas microscópicas os absorvem e os utilizam para formar belas conchas calcárias (de carbonato de cálcio), essas mesmas algas também retiram CO2 diretamente da atmosfera no processo da fotossíntese e devolvem para ela o gás oxigênio.

             Posteriormente sedimentos de pedras calcárias acumuladas no assoalho do oceano durante milhões e milhões de anos afundam gradualmente dentro do manto podendo inclusive desencadear movimentos nas placas tectônicas. Finalmente o CO2 volta para a atmosfera ao ser lançado por vulcões para uma nova jornada longa e cíclica de Gaia. Vulcão, erosão de rochas, bactérias do solo, algas do oceano, sedimentos calcários e de novo os vulcões – um magnífico processo de realimentação que regula a temperatura global. Para Margulis e Lovelock, o meio ambiente da vida, é na verdade parte da vida.

MAURÍCIO TOVAR
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